“Se isso o satisfaz, nobre Ibn Saran,” disse Samos, “você falaria diante do meu amigo aquilo que você ouviu em Kasra.”
“É uma estória contada por um garoto, um cuidador de kaiila. Sua caravana era pequena. Ela foi atingida pela tempestade e um kaiila, enlouquecido pelo vento e pela areia, quebrou a sua trava, mergulhando dentro da escuridão. Tolamente o garoto o seguiu. O animal carregava água. Pela manhã a tempestade havia passado. O garoto cavou uma vala de abrigo. No acampamento foi organizada uma roda.”
Uma vala de abrigo é uma estreita vala de uns quatro ou cinco pés de profundidade e em torno de dezoito polegadas de diâmetro. A areia, atingida pelo sol, pode alcançar temperaturas em sua superfície de mais de 175 graus Fahrenheit (N.T.: aproximadamente 80 graus Celsius). Colocadas empedras, placas de metal de uns dois pés de comprimento e seis polegadas de espessura, expostas ao sol, são algumas vezes usadas pelas mulheres nômades para fritar comida. Apenas um pé ou dois abaixo da superfície, essas temperaturas são reduzidas em mais de cinquenta graus. Uma vala fornece, o que é mais importante, sombra contra o sol. A temperatura do ar raramente passa dos 140 graus (N.T.: 60 graus Celsius) na sombra, mesmo no país das dunas. A vala, é claro, é sempre cavada com seu eixo maior na perpendicular ao caminho do sol, o que fornece a maior sombra por um período mais longo do dia.
Não se deve, quando sozinho, sem água, se mover pelas areias durante o dia. Interessantemente, por causa da falta de água de superfície, as noites, quando o sol se vai, são frescas, até mesmo frias às vezes. Deve-se, assim, se não se está em uma caravana, mover-se à noite. A conservação da água do corpo é o parâmetro crucial para a sobrevivência. Move-se pouco. Sua-se o mínimo possível.
A “roda” é um padrão de busca. Pastores, guardas, cuidadores de kaiila, deixam o acampamento ao longo de um “raio” da roda, se espaçando em intervalos. O número de homens na caravana determina o comprimento do “raio.” Ninguém na caravana se afasta dela por mais do que o comprimento do raio da roda, pertinente à uma específica caravana. O garoto, por exemplo, presumivelmente, se ele tivesse sagacidade, não seguiria o kaiila longe o bastante à pé para se colocar fora da “borda” da “roda.” Como a “roda” de homens gira no seu eixo, o acampamento, em intervalos os homens enfiam flechas na terra ou areia ou, se pedras estão disponíveis, fazem flechas apontando o acampamento. Quando a busca é descontinuada, após o sucesso ou fracasso, esses marcadores são destruídos, para que eles não sejam tomados por viajantes como flechas de água, marcadores indicando a direção de poços d'água, cisternas subterrâneas ou oásis. Em uma caravana de kailla, a propósito, tanto aqueles que são animais de carga quanto aqueles usados como montaria para guardas e guerreiros, recebem mutos sinos. Isso ajuda a manter os animais juntos, facilita se movimentar no escuro o que é, em um país onde frequentemente não se pode ver mais do que cem jardas até a próxima duna ou platô, um importante fator de sobrevivência. Se não fossem os sinos das caravanas, o movimento lento, de outra forma geralmente silenciosas caravanas poderiam passar dentro de áreas de homens em desesperada necessidade de socorro. Os kailla dos saqueadores, a propósito, nunca recebem sinos.
“Pela noite,” disse Ibn Saran, “o garoto foi encontrado. Ouvindo os sinos da montaria de um guarda, ele emergiu da vala de abrigo e, atraindo a atenção do homem, foi resgatado. Ele apanhou muito, é claro, por ter deixado a caravana. O kaiila, por sua própria conta, retornou mais tarde para a forragem.”
"If it pleases you, noble Ibn Saran," said Samos, "would you speak before my friend what heard you in Kasra."
"It is a story told by a boy, a tender of kaiila. His caravan was small. It was struck by storm, and a kaiila, maddened by wind and sand, broke its hobble, plunging away into the darkness. Foolishly the boy followed it. It bore water. In the morning the storm had passed. The boy dug a shelter trench. In the camp was organized the wheel."
A shelter trench is a narrow trench some four or five feet deep and about eighteen inches wide. The sand, struck by the sun, can reach temperatures on its surface of more than 175 degrees Fahrenheit. Set on rocks, boards of metal some two feet in length, and six inches wide, exposed to the sun, are sometimes used by the nomad women in frying foods. Only a foot or two below the surface, these temperatures are reduced by more than fifty degrees. The trench provides, most importantly, shade from the sun. The air temperature is seldom more than 140 degrees in the shade, even in the dune country. The trench, of course, is always dug with its long axis perpendicular to the path of the sun, that it provides the maximum shade for the longest period of time.
One does not, alone, without water, move on the sands during the day. Interestingly, because of the lack of surface water, the nights, the sun gone, are cool, even chilly at times. One would, thus, if not in caravan, move at night. The conservation of body water is the crucial parameter in survival. One moves little. One sweats as little as possible.
The "wheel" is a search pattern. Herdsmen, guards, kaiila tenders, leave the camp along a "spoke" of a wheel, spacing themselves at intervals. The number of men in the caravan determines the length of the "spoke." No one in the caravan departs from it by more than the length of the wheel's spoke, pertinent to the individual caravan. The boy, for example, presumably, if he had his wits about him, would not follow the kaiila long enough on foot to place himself outside the "rim" of the "wheel." As the "wheel" of men turns about its axis, the camp, at intervals the men draw arrows in the dirt or sand, or, if rocks are available, make arrows, pointing to the camp. When the search is discontinued, after success or failure, these markers are destroyed, lest they be taken by travelers for water arrows, markers indicating the direction of water holes, underground cisterns or oases. The caravan kaiila, incidentally, both those which are pack animals and those used as mounts for guards and warriors, are muchly belled. This helps to keep the animals together, makes it easier to move in darkness, and in a country where, often, one cannot see more than a hundred yards to the next dune or plateau, is an important factor in survival. If it were not for the caravan bells, the slow moving, otherwise generally silent caravans might, unknowingly, pass within yards of men in desperate need of succor. The kaiila of raiders, incidentally, are never belled.
"By noon," said Ibn Saran, "the boy was found. Hearing the bells of a guard's mount, he emerged from the shelter trench, and, attracting the man's attention, was rescued. He was, of course, muchly beaten, for having left the caravan. The kaiila, of its own accord, returned later, for fodder."
Tribos de Gor – Capítulo 1 – Páginas 31 / 32
“De quão longe o homem veio?” Eu perguntei. “Quanto tempo ele esteve no deserto?”
“Eu não sei,” disse Ibn Saran. “O quão bem ele conhecia o deserto? Quanto de água ele tinha?”
O homem deveria ter vindo de milhares de pasangs, antes que o kailla morresse, ou fugisse.
“A quanto tempo ele está morto?” Eu perguntei.
Ibn Saran sorriu levemente. “Um mês,” ele disse. “Um ano?”
No deserto a decomposição avança com grande lentidão. Corpos, bem preservados, haviam sido achados, que deveriam ter sido mortos há mais de um século. Esqueletos, ao menos que tivessem sido trazidos por pássaros ou animais, raramente eram encontrados no deserto.
"From how far had the man come?" I asked. “How long had he been on the desert?"
"I do not know," said Ibn Saran. "How well did he know the desert? How much water had he?"
The man might have come thousands of pasangs before the kaiila had died, or fled.
"How long had he been dead?" I asked.
Ibn Saran smiled thinly. "A month," he said. "A year?"
In the desert decomposition proceeds with great slowness. Bodies, well preserved, had been found which had been slain more than a century before. Skeletons, unless picked by birds or animals, are seldom found in the desert.
Tribos de Gor – Capítulo 1 – Página 33
No Tahari existe um quase constante vento. Não é um vento quente, mas os nômades e os homens que trabalham no Tahari o saúdam. Sem ele, o deserto seria quase insuportável, até mesmo para queles com água e cujos corpos estão protegidos do sol.
Eu ouvi os sinos de caravana, cujo som é agradável. O kaiila se movia lentamente.
Predominantemente, o vento no Tahari sopra do norte ou noroeste. Há pouco a temer dele, exceto na primavera, se ele se levanta e sopra para o leste ou, no outono, se ele sopra na direção oeste.
Nós estávamos nos movendo através de um terreno montanhoso, com muitos esfregões. Existiam muitas rochas grandes espalhadas ao redor. Sob os pés havia poeira e cascalho.
Nos lados de sombra de algumas rochas, e nas encostas sombreadas das colinas, aqui e ali, cresciam obstinados, amarronzados retalhos de grama de verr. Ocasionalmente nós passávamos por um poço d’água, e tendas de nômades. Em torno de alguns desses poços d’água, havia uma dúzia se tanto de pequenas árvores, árvores flahdah, como chapéus de guarda-chuvas sobre tortos galhos, não mais do que vinte pés de altura; eles têm galhos estreitos, com folhas lanceoladas. Em volta da água, pouco mais que lamacentas, rasas lagoas, salvo pelas flahdahs, nada crescia; aprnas seca, rachada terra, esbranquiçada e deformada, por um raido de mais de um quarto de pasang, podia ser encontrada; qualquer vegetação que pudesse ter existido havia sido pastada até as raízes; podia-se colocar a mão dentro das rachaduras da terra; cada rachadura se junta a outras, para constituir um extenso, reticulado padrão; cada quadrado nesse padrão é superficialmente côncavo. Os nômades, quando acampados em um local de água, usualmente assentam a sua tenda perto de uma árvore; isso permite-lhes sombra; além disso, eles colocam e penduram produtos nos galhos da árvore, usando-a como armazenamento.
De tempos em tempos a caravana parava e, fervendo água sobre pequenos fogos, nós fazíamos chá.
Já era tarde avançada. Nós pararíamos em uma Ahn ou duas para acampar.
Fogos seriam acesos. Os kaiila seriam colocados em círculos, dez animais no círculo, e forragem, por garotos de kaiila, seria jogada no círculo.
As tendas seriam armadas. A abertura da tenda do Tahari usualmente dá face para o leste, para que o sol da manhã possa aquece-la. Gor, como a Terra, roda para o leste. As noites requerem, frequentemente, um pesado djellaba, ou um cobertor extra. Muitos nômades constroem um pequeno fogo de esterco de kaiila na tenda, para arder durante a noite, para aquecer os seus pés. Eu não precisava fazer isso, é claro, já que aos meus pés dormia a antiga Senhorita Priscilla Blake-Allen, a garota, Alyena.
À noite os kaiila são presos pelas pernas. As escravas, também, são presas pelas pernas. Com o kaiila, uma simples forma de oito voltas de corda de pelo de kaiila, acima das suas patas abertas, abaixo dos joelhos, é suficiente. Uma garota, é claro, é acorrentada.
In the Tahari there is an almost constant wind. It is a hot wind, but the nomads and the men who ply the Tahari welcome it. Without it, the desert would be almost unbearable, even to those with water and whose bodies are shielded from the sun.
I listened to the caravan bells, which sound is pleasing. The kaiila moved slowly.
Prevailingly, the wind in the Tahari blows from the north or northwest. There is little to fear from it, except, in the spring, should it rise and shift to the east, or, in the fall, should it blow westward.
We were moving through hilly country, with much scrub brush. There were many large rocks strewn about. Underfoot there was much dust and gravel.
On the shaded sides of some rocks, and the shaded slopes of hills, here and there, grew stubborn, brownish patches of verr grass. Occasionally we passed a water hole, and the tents of nomads. About some of these water holes there were a dozen or so small trees, flahdah trees, like hat-topped umbrellas on crooked sticks, not more than twenty feet high; they are narrow branched, with lanceolate leaves. About the water, little more than muddy, shallow ponds, save for the flahdahs, nothing grew; only dried, cracked earth, whitish and buckled, for a radius of more than a quarter of a pasang, could be found; what vegetation there might have been had been grazed off, even to the roots; one could place one's hand in the cracks in the earth; each crack adjoins others to constitute an extensive reticulated pattern; each square in this pattern is shallowly concave. The nomads, when camping at a watering place, commonly pitch their tent near a tree; this affords them shade; also they place and hang goods in the branches of the tree, using it for storage.
From time to time the caravan stopped and, boiling water over tiny fires, we made tea.
It was in the late afternoon. We would stop in an Ahn or two for camp.
Fires would be lit. The kaiila would be put in circles, ten animals to the circle, and fodder, by kaiila boys, would be thrown into the center of the circle.
The tents would be pitched. The opening of the Tahari tent usually faces the east, that the morning sun may warm it. Gor, like the Earth, rotates to the east. The nights require, often, a heavy djellaba or an extra blanket. Many nomads build a small kaiila-dung fire in the tent, to smolder during the night, to warm their feet. I needed not do this, of course, for at my feet slept the former Miss Priscilla Blake-Allen, the girl, Alyena.
At night the kaiila are hobbled. The slave girls, too, are hobbled. With the kaiila a simple figure eight twist of kaiila air rope, above the spreading paws, below the knees, is sufficient. A girl, of course, is chained.
Tribos de Gor – Capítulo 4 – Páginas 110 / 111